1554

Mais de 60 médicos certificados em Residência própria

Cadastrada em: 10/05/2021, Elaine de Souza, ACI-Famesp
[FOTO: ARQUIVO ACI-FAMESP]

Rosilene Cordeiro, do Núcleo de Ensino e Pesquisa, conversa com residentes que ingressaram em março de 2019 

Em fevereiro de 2020, quando ainda não havia sido anunciada a pandemia do novo coronavírus no Brasil, 13 médicos concluíram a Residência Médica em cerimônia no auditório Sírius do Hospital Estadual de Bauru (HEB), na noite de 07 de fevereiro. Ninguém imaginava naquela data o que realmente estava por vir.

Em pouco mais de um mês, a pandemia era anunciada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Hospital Estadual de Bauru – uma das unidades hospitalares sob gestão da Famesp que serve de campo de atuação dos residentes – se tornaria referência regional para tratamento de Covid-19. Desde então, eventos como aquele de formatura, com celebração e direito a calor humano e muitos abraços, estariam adiados por tempo indeterminado.

[FOTO: ARQUIVO PESSOAL]

Residente Ana Maria paramentada para a linha de frente

Foi nesse contexto que a médica Ana Maria Viola Rensi, 30, que em 2020 era uma das formandas do Programa de Clínica Médica da Residência Médica da Famesp, se tornaria plantonista na linha de frente no tratamento de Covid-19 naquela mesma instituição.

“Comecei a atuar na UTI Covid-19 do Hospital Estadual de Bauru, como médica residente plantonista, no dia 20 de março de 2020. Naquele momento, o impacto na minha vida pessoal foi grande. Por exemplo, alteramos a rotina de visita aos familiares, ficando aproximadamente um ano sem visitá-los", conta Ana, cuja família é de Jales (SP). "Acredito que psicologicamente, além do apoio por profissionais da área, o amparo por meio do meu noivo e da minha família (mesmo distante) foi excepcional para ajudar no enfrentamento da lida diária”, relembra a médica que, hoje, faz outra especialização na área de Cuidados Paliativos, e dá plantão nas áreas Covid-19 do Hospital Estadual de Bauru aos finais de semana.

Ana reafirma que lidar com esse momento pandêmico vem sendo um desafio diário. Mas profissionalmente engrandecedor. “A experiência em atuar diretamente na área é engrandecedora profissionalmente e humanamente falando”, destaca. “A residência em clínica médica nos possibilitou ter ferramentas teóricas e técnicas para tal, sou muito agradecida a todos da residência, coordenadores, chefes, staffs, bem como toda equipe multidisciplinar do hospital, que diariamente nos apoiam e auxiliam”, relata.

Um ano depois, Ana admite estar cansada. Como não? Mas se sente grata pela  oportunidade de poder aplicar o que aprendeu e de continuar aprendendo a cada dia. “É gratificante poder contribuir, mesmo que um pouco, de uma maneira positiva neste período de tantas dificuldades e mudanças”.

 

A médica também se recorda de histórias que a marcaram nesse período de pandemia. “Acredito que todos os casos nos marcam de alguma forma, como disse Drummond, ‘de tudo fica um pouco’. Mas há dois casos em especial. O de uma paciente idosa cuja família enviou uma carta para lermos a ela, conhecida como 'potinho de ouro', que nos deixou muito emocionados”, conta.

 

Um cafezinho sem leite, por favor

O outro caso é de um paciente de quase 100 anos de idade, que também teve Covid-19.  “Junto à família, por chamadas de vídeo na visita virtual, e ao paciente, pudemos realizar cuidados paliativos, oferecendo todo suporte necessário e respeitando a autonomia do paciente, com controle de sintomas e contribuição para sua qualidade de vida naqueles momentos finais”.  Dentro das limitações existentes, a equipe também conseguiu atender a desejos do paciente, como, por exemplo, o de tomar um cafezinho puro.  Ana conta que por alguns dias, mesmo não estando escalada para aquele setor, chegou a visitar o paciente. Nessa hora é difícil não lembrar de entes queridos, como um pai, um avô, afinal todo paciente é o afeto de alguém. “Mas apesar de, realmente, nos emocionarmos, e nos colocarmos no lugar do outro, temos de usar mais da razão para a tomada das melhores ações naquele momento. O profissional da saúde muitas vezes abafa as próprias lágrimas”, conclui.

Assim como Ana Maria, a partir de março de 2020, residentes da Clínica Médica do Programa de Residência da Famesp também passaram a atuar nas unidades de tratamento de pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19, tornando-se indispensáveis na rotina hospitalar que se transformou praticamente num campo de batalha.


A Residência

Com duração de dois e três anos, os programas próprios de Residência Médica da Famesp foram implantados em 2014 e, incluindo a turma de 2021, já certificaram 61 médicos residentes nas áreas de Cirurgia Geral, Clínica Médica e Pediatria. Em 2019, um novo programa foi credenciado pela Comissão Nacional de Residência Médica: o de Anestesiologia, com início da primeira turma em 2020.

Em Bauru, os residentes atuam em unidades como o Hospital de Base de Bauru, Hospital Estadual e Maternidade Santa Isabel.

Em 2020, a Famesp ofereceu dez vagas para médicos residentes num dos seus programas (Anestesiologia, Cirurgia Geral, Clínica Médica ou Pediatria).

A Famesp também oferece campo de ensino para residentes de programas de outras instituições, e hoje tem se destacado em Bauru e região como a instituição que mais abre portas para que estudantes vivenciem a rotina de assistência em serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em março de 2021, num ato apenas simbólico, com máscaras e todos os cuidados de biossegurança, quatro médicos do Programa de Clínica Médica da Residência da Famesp concluíram a jornada iniciada em 2019 e, agora, podem ter o mesmo destino seguido por Ana Maria, desafiando um vírus que ainda tem causado inúmeros impactos na população.

Renata Fróes Ramos de Lima, Julian Noriaki Richter Kawai, Bruna Brianez Fontoura e Guilherme Mendes Pereira Richter, que receberam tutoria do médico Bruno Nascimento Rosa Hercos, coordenador do Programa de Clínica Médica dessa Residência, estão entre os profissionais da saúde desafiados dia a dia na missão de salvar vidas, somando às dezenas de médicos já certificados pela Residência da Famesp.

Ensino em números

Desde 2014, ao todo, 61 médicos já concluíram os Programas de Residência Médica da Famesp: 25 em Pediatria; 21 em Clínica Médica; 15 em Cirurgia Geral. Além da Residência Médica, desde 2017, a Famesp é credenciada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cabeça e Pescoço para o Curso de Especialização em Cirurgia Cabeça e Pescoço. Desde então, quatro profissionais já concluíram o Curso e dois profissionais cursam essa Especialização atualmente.