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Hospital Estadual é referência no tratamento de queimaduras para todo o Estado

(ACI Famesp) - Cadastrada em: 20/11/2017 17:10:13


A Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) do Hospital Estadual de Bauru (HEB), serviço sob gestão da Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp), é referência em saúde no tratamento público de pacientes dos 645 municípios do Estado de São Paulo. O Hospital como um todo atende pacientes de 68 cidades da região de Bauru, com população estimada de 1,8 milhão de pessoas. Porém, a Unidade de Tratamento de Queimaduras tem abrangência maior, recebendo pedidos de internação de todo o Estado. Se faltar vaga em outros serviços de referência do país, o HEB também pode ser acionado, como já ocorreu com pacientes do Paraná.
Inaugurado em março de 2004, o Serviço acumula histórias de sucesso no tratamento e ajuda a escrever a trajetória desse Hospital que completou 15 anos de inauguração em 11 de novembro de 2017.
A Unidade contabiliza quase três mil pacientes internados, além de todos os casos acompanhados em ambulatório. Atualmente, somente essa Unidade mantém 16 leitos em funcionamento no hospital. Localizada na ala direita do segundo andar do HEB, é dotada de sistemas de segurança sanitária e ambiental, com equipamentos modernos para tratamento de adultos e crianças vítimas de queimaduras de todos os tipos.
O tratamento para este tipo de situação é complexo, delicado, e requer muita atenção. Por isso, o tempo de permanência de cada paciente varia de acordo com a gravidade do caso. Há pacientes que chegam a ficar internados por até seis meses, embora a média geral seja de um a dois meses.

Vidas refeitas
Histórias marcantes em unidades hospitalares como a de Queimados não são raras. Tanto para quem é atendido quanto para quem salva vidas. É o caso da médica Cristiane Rocha. Atuando na ala desde a sua inauguração, a cirurgiã plástica, coordenadora médica da unidade, conta que foram mais de 2.800 internações no período, de pessoas de todas as idades. “70% dos enfermos são adultos, acima dos 18 anos. E já tratamos um bebê de um mês, assim como um senhor de 100 anos”, lembra. “Aprendemos a lidar com as emoções para sempre encorajar os pacientes”, conta. Mas, às vezes, é difícil controlar o choro. Entre os casos que marcaram a equipe, a médica destaca um. “Era um 12 de junho e eu estava de plantão. Lembro-me como se fosse hoje. Recebemos uma menina de 15 anos, que era modelo na época (2009). Ela chegou na unidade sem cabelo nenhum e com queimaduras de segundo e terceiro graus em 42% do corpo. Ela ficou internada até 23 de dezembro daquele ano. Foi muito difícil conduzir o caso sob o ponto de vista das sequelas emocionais”, relembra a médica. “Seis anos depois eu a reencontrei bem, linda, de cabelão, e com a vida refeita”, emociona-se.   
O caso da ex-modelo, hoje com 23 anos, cuja história da queimadura por labaredas da preparação de um drinque exótico durante uma festa teve repercussão nacional, exemplifica a complexidade do trabalho da equipe da UTQ.
Os acontecimentos envolvendo crianças também causam grande comoção e costumam ser os mais difíceis de lidar. “Nesses casos é fundamental a atuação da equipe multiprofissional da Unidade. Sempre que necessário, psicóloga e assistente social, por exemplo, entram em ação para dar o suporte que o paciente e a família precisam”, conta a médica. Além dessas duas áreas, a equipe multiprofissional também é composta por profissionais de enfermagem, fisioterapia, fonoaudiólogo, nutricionista, médicos pediatras, clínicos e cirurgiões plásticos. “A estrutura da equipe nos ajuda a lidar com a complexidade do ser humano. Para tratar pacientes queimados você tem que amar a profissão. É uma carga emocional muito grande, principalmente porque são acidentes que costumam deixar sequelas”, destaca a doutora Cristiane.

Outra história que teve repercussão recente na mídia foi a do adolescente J. S., de 13 anos, que passou quatro meses internado na unidade de tratamento de queimaduras do HEB. Quem relatou o caso foi a equipe do Jornal da Cidade, em caderno especial publicado no dia 17/11. Clique aqui para conferir.  

O adolescente J.S., 13 anos, de Minas Gerais com sua tia,  Luzia
Alcântara Silva Barbosa, durante internação na unidade de tratamento
de queimaduras do HEB.



Referência em Humanização e pesquisas
Recentemente, o HEB também se tornou Referência em Humanização no Estado e a Unidade de Tratamento de Queimaduras foi reconhecida pela permanência de acompanhantes e alta referenciada (quando são acompanhados por uma equipe multiprofissional). Uma conquista importante já que existem 16 unidades que tratam este tipo de paciente em São Paulo, dez destas no interior, e a UTQ do HEB foi a primeira a receber esse destaque.
Ao longo dos anos à frente da unidade, Cristiane garante que aprendeu muito com o convívio dos atendidos e que é um grande desafio atuar com a Unidade sempre cheia. “Por ser referência, atendemos muitas pessoas. Se damos alta para dois, logo entram outros dois. Em razão desse fluxo intenso, a permanência dos acompanhantes na Unidade também foi um desafio. Mas entendemos a necessidade e abraçamos a ideia de tal modo que fomos presenteados com essa Referência. Isso nos orgulha”, pontua.
Além da Referência em Humanização, a Unidade também vem se destacando em tecnologia a favor dos pacientes. Tanto é que está em fase de análise do comitê de ética uma pesquisa que vai integrar estudos inéditos desenvolvidos na Universidade Federal do Ceará (UFC) com o uso da pele de tilápia em curativos de queimaduras de segundo grau. A previsão para início da parte prática da pesquisa é 2018.

Perfis atendidos
Segundo a coordenadora médica da Unidade, entre os internados, 35% são do sexo feminino e 65% homens. Entre eles, 85% sofreram acidentes. De todos os casos tratados, 70% das queimaduras ocorrem em casa. A médica ressalta que o perfil do tratamento exige da equipe um preparo que extrapola os conhecimentos técnicos. “Temos de saber conversar com cada um deles. Muitos estavam brincando ou trabalhando e sofrem um acidente. Aí ficam internados e, em alguns casos, saem com sequelas. A vida muda”, conta.
“São diversos acidentes domésticos. Muitos envolvendo panela de pressão, cafeteira, criança que puxa o cabo da panela com óleo quente. E temos também bastante incidente durante churrascos. A pessoa acaba mexendo no álcool, por exemplo”, conta Cristiane.
Entre as causas mais comuns, 55% das queimaduras ocorrem por fogo e, destes, 50% envolvem álcool. Em seguida, acidentes com líquido quente (32%), por contato com superfície quente (6%), queimadura elétrica (6%) e química (1%).